
É época de fazer compras de Natal, tudo, tudinho para mim, que se danem os outros.
É época de aproveitar a mega liquidação da Zara.
É época de sair no tapa por uma blusinha laranja de viscolycra da Mercatto, que não vale o dinheiro, muito menos o esforço para adquiri-la.
É época de vasculhar as araras da C&A em busca de algo meramente vestível, como se fosse uma arqueóloga em busca do Santo Graal.
Ai, ai. Meu coração se enche de paz e esperança em dezembro.
Mas, como meu bom senso sempre pede férias neste período para aproveitar as festas com seus primos favoritos, o orgulho e a auto-estima, fico meio "a Deus dará". Tento me cuidar durante estes dias, pensando que tudo deveria ser feito com o máximo de cuidado para evitar constrangimentos e reações adversas, mas... ha! Até parece.
Fui ao shopping há duas semanas fazer minha tradicional compra de Natal acompanhada de meu pai. Tenho 24 anos na cara, mas ainda peço, anualmente, roupinhas bonitas de fim de ano.
Vergonha, não trabalhamos.
Ir ao shopping comigo é uma coisa bem mais simples do que o namorado ironiza. Eu tenho meia dúzia de lojas favoritas e restrinjo minha visita a elas. Caso não encontre nada no TOP 6... aí sim, é guerra, babe. Entro em TO-DAS-AS-LO-JAS. Até nas de jovens senhoras. É daí direto para o Pinel, que, por sinal, fica bem próximo do shopping que eu freqüento.
É época de aproveitar a mega liquidação da Zara.
É época de sair no tapa por uma blusinha laranja de viscolycra da Mercatto, que não vale o dinheiro, muito menos o esforço para adquiri-la.
É época de vasculhar as araras da C&A em busca de algo meramente vestível, como se fosse uma arqueóloga em busca do Santo Graal.
Ai, ai. Meu coração se enche de paz e esperança em dezembro.
Mas, como meu bom senso sempre pede férias neste período para aproveitar as festas com seus primos favoritos, o orgulho e a auto-estima, fico meio "a Deus dará". Tento me cuidar durante estes dias, pensando que tudo deveria ser feito com o máximo de cuidado para evitar constrangimentos e reações adversas, mas... ha! Até parece.
Fui ao shopping há duas semanas fazer minha tradicional compra de Natal acompanhada de meu pai. Tenho 24 anos na cara, mas ainda peço, anualmente, roupinhas bonitas de fim de ano.
Vergonha, não trabalhamos.
Ir ao shopping comigo é uma coisa bem mais simples do que o namorado ironiza. Eu tenho meia dúzia de lojas favoritas e restrinjo minha visita a elas. Caso não encontre nada no TOP 6... aí sim, é guerra, babe. Entro em TO-DAS-AS-LO-JAS. Até nas de jovens senhoras. É daí direto para o Pinel, que, por sinal, fica bem próximo do shopping que eu freqüento.
Mas, meu dia de compras estava sendo produtivo até entrar na Zara. A meca das pessoas que gostam de comprar coisas que nunca usarão, jamais, em qualquer hipótese, na vida. E lá, enquanto vislumbrava toda uma gama de peças que não fariam a menor falta em meu guarda-roupas, avistei o Graal. Sim, o meu cardigan vermelho-sangue. O meu cardigan vermelho-sangue que sempre quis e sonhei. O mesmo que eu vejo em capas de revista e editoriais informais de inverno desde 1992, mas jamais encontrei em qualquer loja por um preço razoável. O mesmo utilizado por Claire Danes, em "My so called life", na pele de Angela Chase, meu personagem/alter ego favorito.
O único problema é que ele estava na mão de outra pessoa. Corri a loja inteira em busca da pilha secreta de cardigans vermelho-sangue que sempre quis e sonhei e NADA.
Quis morrer, quis matar. Matar a lambisgóia que estava roubando meu cardigan, meus sonhos adolescentes de me assemelhar à Claire Danes e a minha sanidade!
Só que, se o bom senso estava de folga, a sanidade mental eu nunca possuí. Percebi que estava vestida com calça e camiseta pretas, assim como as vendedoras da loja, e não hesitei... fui resgatar meu cardigan.
Me aproximei da ninfa etérea loira e curvilínea que se apossou do meu casaco e iniciei o diálogo non-sense:
Eu - "Aaahamp. Oi... er... posso ver este cardigan, por favor? Er... temos que devolvê-lo ao estoque", disse puxando o cardigan.
Lorão - "Ahn? Por quê? Oi?", respondeu puxando de volta.
Eu - "Não posso explicar... eer... olha, é uma coisa meio secreta, eles tiveram um problema. Na fabricação entende?", sussurrei, olhei para os lados, fiz cara de 007.
Lorão - "É mesmo? Uuuuh, tem drogas nessa história, né? Deve ter, sempre tem drogas nessas histórias da Zara. Lembra a de 2003, né?", perguntou suspeitamente com um brilho nos olhos.
Eu - "Hmmm... drogas? É, talvez. 2003? Foi... foi uma coisa louca, né?", respondi, com medo, muito medo do Lorão.
Lorão - "Aaaah, foi", disse com olhar saudoso.
Eu - "Me dê o cardigan. Tudo vai ficar bem. Tudo muito sigiloso ainda. Nada concreto", respondi com palavras soltas em uma espécie de código.
Lorão - "Iiih, então vai dar um trabalho recolher todos eles, né? Ainda tem aquela pilha enooorme ali", disse apontando para um pilha de cardigans de TODAS AS CORES DO ARCO-ÍRIS, bem na entrada da loja.
Eu - "Eer..ééé. Aaanh. Ah", gaguejei e saí.
Até fiquei com raiva de ter feito toda uma representação a troco de nada, mas o cardigan da loira curvilínea obviamente era P e eu precisava de algo maior. Fui em direção à tal pilha e era tão bonito. Eram tantos. Bem na minha frente. O meu "cardigan vermelho-sangue que sempre quis e sonhei" e vários amiguinhos em volta. Eles custavam menos de R$50,00 e, definitivamente,... não caberiam em mim. Nunca. Nunquinha. Nenhum deles. Só nascendo de novo.
Toda a pilha era de "cardigans vermelho sangue que eu sempre quis e sonhei" no tamanho P e, bom, P não é meu tamanho desde os 12 anos. Sou uma mocinha grande, pensei. Fudeu, pensei de novo.
Chamei uma das simpáticas atendentes da loja e, já prevendo que o M não passaria do meu pescoço, pedi o G. Aí, a Terra parou de girar, os pólos magnéticos se inverteram e ela disse:
"Tamanho G? Para você? Hmmmm... Olha, não queria falar nada não, mas essa modelagem é muito pequena... (olhando para meus seios). Honestamente, não vai caber em você (olhando para meus quadris, de forma reprovadora)".
E eu, pensando em de que forma meus quadris se relacionam com um casaquinho, respondi:
"Não queria falar nada não, mas a sua calça também é muito pequena para sua bunda e eu não estou comentando nada, então... chop chop - sim, eu falo isso - você poderia tentar localizar meu cardigan?"
Em tempo, a bunda era realmente muito grande para a calça que se esforçava em vestí-la e esse detalhe ficaria entre eu e minha mente sórdida, mas NÃÃÃÃÃÃO ela tinha que tentar transformar "meu dia fabuloso de compras no cartão do papai" em um inferno. Argh.
O cardigan existia em G e, sim, se ajustou ao meu corpo como se tivesse sido feito por encomenda por habilidosas freiras cegas dedicadas à arte de serzir em um convento no sul da Espanha.
Ao sair da loja o Lorão comentava com uma senhora aleatória algo sobre cardigans azuis. Acho que ela piscou para mim. Surrealismo é o fruto do meu dia-a-dia.
The end.
The end my ass. Cheguei em casa e concluí o ritual anual de sair com o papai e acabar com seu 13º: experimentei tudo o que comprei, combinando com todas as peças pré-existentes em meu armário. Dediquei atenção especial ao cardigan e me impressionei com seu potencial camaleônico. A peça mais coringa que já possuí, certeza. Então, enquanto dobrava-o gentilmente para apresentá-lo ao meu guarda-roupas, sua nova residência, um pequeno detalhe na etiqueta chamou minha atenção.
70% Cotton
30% Nylon
Made in Cambodia.
...
Made in Cambodia!!!!!
MADE IN FUCKIN' CAMBODIA!
Teto preto seríssimo. Não lembro dos cinco minutos seguintes, pois durante este pequeno período eu tive flashes incessantes de crianças de sete anos de idade tendo membros amputados por máquinas assassinas no Camboja. Crianças de sete anos de idade recebendo U$0,04 por dia de trabalho. Crianças de sete anos de idade sendo molestadas pelo dono da fábrica. Crianças de sete anos de idade sendo chicoteadas para acelerar o processo de fabricação de tênis da Nike e CARDIGANS VERMELHO-SANGUE DA ZARA.
MADE IN FUCKIN' CAMBODIA!
Teto preto seríssimo. Não lembro dos cinco minutos seguintes, pois durante este pequeno período eu tive flashes incessantes de crianças de sete anos de idade tendo membros amputados por máquinas assassinas no Camboja. Crianças de sete anos de idade recebendo U$0,04 por dia de trabalho. Crianças de sete anos de idade sendo molestadas pelo dono da fábrica. Crianças de sete anos de idade sendo chicoteadas para acelerar o processo de fabricação de tênis da Nike e CARDIGANS VERMELHO-SANGUE DA ZARA.
Sabe o porquê do nome vermelho-sangue do meu cardigan? Ele é vermelho porque foi lavado com o sangue das criancinhas cambojanas que o fizeram. Argh. Aaaargh. Argh.
Nunca usei meu cardigan. Está no fundo do armário acumulando karma.
Argh.
TEXTO ESCRITO POR Patsy, vencedora da Promoção "Delírios de Consumo", que ganhará o livro "Delírios de Consumo de Becky Bloom" de Sophie Kinsella. Parabéns, querida! Adoramos o seu humor e o espírito Becky Bloom que se apossou de você nessa crônica, aguarde nosso contato ainda hoje!
hahahahahahaha
ResponderExcluirPARABÉNS!!!!!
sua louca! rs...
=P