segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Invernos Passados


Guardo diversas memórias da minha infância bem nítidas na minha cabeça. As ruins, lógico. Das boas a gente normalmente esquece (a não ser que seja MUITO boa, como aquele Natal em que ganhei patins e bicicleta, os dois!)
Na época, o que eu passei acho que nem tinha nome. Hoje tem: bullying.
Desde já aviso que esse texto não passa de um mero relato, totalmente leigo. Não tenho vasto conhecimento sobre o assunto, tampouco sou psicóloga ou pedagoga.
Minha vida naquela época se resumia à escola e passar a tarde brincando com meu irmão, jogando Prince of Persia ou assistindo Chiquititas. A escola era a pior parte.
A neta do dono da escola era da minha sala e todo mundo a olhava como se fosse a Lady Di em pessoa. Eu não era das mais bem sucedidas nas aulas de educação física, então sempre era escolhida por último naquela maldita seleção de times. Por causa dessa humilhação, ia para a escola com o estômago retorcido e as mãos suando toda segunda-feira.
Como não me enturmei com o pessoal pop, foi como se pedisse para ser alvo de constrangimento por anos a fio.
Era abrir a boca na aula e pronto. Quando o professor desse as costas eram risadinhas, bilhetes e bolinhas de papel para cima de mim. Deixei de perguntar.
Entrava sempre antes ou depois delas. Subir a escada junto era pedir para ter as calças abaixadas, um bilhete de "chute-me" nas costas ou até um tombo.
Antes de sentar, aprendi a conferir se não tinha cola ou tinta na minha cadeira.
Só ia no banheiro durante as aulas. Ai de mim se entrasse numa daquelas cabines durante recreio. Das duas uma: ou todas elas apareciam por cima me falando putarias que eu nem sabia do que se tratava, ou um rolo de papel higiênico molhado voava na minha cabeça.
De tanto ouvir que era gorda, acabei acreditando. Deixava de comer, ou quando o fazia era escondido (e aos montes). Não demorou muito para que meu corpo adoecesse.
Tinha apenas aquela única amiga, que era a minha salvação.
Meus pais não levaram a sério. Quando contava o que eu passava só ouvia "você tem que falar com a diretora" ou então "se te xingarem, você xinga também". Eles não entendiam que isso só pioraria as coisas. Como eu ia revidar se nem sabia o siginificado daquelas palavras que elas me diziam?

Com a auto-estima no freezer e sem amigos, comecei a me envolver com pessoas não muito aconselháveis. Não me lembro como as conheci, só sei que uma levou a outra e quando me dei conta, estava em um grupo com pessoas muito mais velhas que eu, aprendendo a falar todos os palavrões, bebendo e fumando aos 11 anos.

Naquela época não aparentava a idade que tinha, nem fisicamente, nem mentalmente. Ficava com caras muito mais velhos porque isso alimentava minha auto-estima.
Aos 13 comecei a namorar. Não gostava dele, só queria esfregar na cara delas que eu tinha um namorado enquanto elas ainda brincavam de "pera, uva, maçã ou salada-mista".
Nem preciso dizer que iniciei minha vida sexual cedo demais, com a pessoa errada e de forma precária.
Meus pais ficavam horrorizados comigo. Meu comportamento era agressivo, minhas roupas eram sempre pretas e um tanto vulgares, e quando minha mãe descobriu que eu não era mais virgem, fez um escâdalo, gritou, chorou, chamou meu pai que também chorou (e essa imagem eu nunca vou esquecer).
Me senti como uma vagabunda. Bloqueei o sexo na minha mente. Encarava como algo sujo e proibido.
Essa fase da minha vida (dos 11 aos 14) foi sem dúvida a mais difícil e mais marcante. Até hoje carrego as seqüelas. Ainda tenho alguns problemas relacionados ao sexo, minha auto-estima é baixa (eu a chamo carinhosamente de baixa-estima) e às vezes sinto vergonha de comer na frente de outras pessoas.
Penso que tudo isso poderia ser evitado se meus pais tivessem atendido aos meus pedidos para mudar de escola, se tivessem acreditado que eu não estava "exagerando" simplesmente.
Sei que é um tanto de coisa para descarregar na análise, mas é algo que ainda não consigo fazer. Todas as minhas tentativas foram frustradas.
Todos nós temos uma maldade inerente. A maldade adolescente é das mais cáusticas. Ainda tremo na base só de pensar naqueles tempos.
Depois disso, aprendi a pensar um pouco mais nos outros. Tento não repetir o que fizeram comigo e não menosprezar as fragilidades alheias.
Muitas vezes, o que nos parece apenas um floco de neve, para o outro pode ser uma nevasca...e das grandes.

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