
Coisas bizarras acontecem durante as quatro estações, sem exceção. Tudo bem. Mas no verão, ahh minha gente, é no verão que a coisa complica.
O calor, o sol, o sal, o suor e algumas caipirinhas na cabeça afloram um lado que permanece escondidinho por baixo da gravata (ou do salto) aguardando ansiosamente as férias de janeiro e por derradeiro, o carnaval.
Sabe o que eu enxergo? Uma manada de camarões invasores. Sim, manada de camarões! Camarões porque fica todo mundo vermelhaço (sundown é luxo). E são camarões gordos, vestidos com cores cítricas, usando ipanemas (porque agora havaiana é cara) cheias de areia e biquínis molhados por baixo - por isso o termo manada.
O bom senso não desce a serra, fato.
Foi então que tive notícia de uma recente pesquisa realizada, que estuda o fenômeno comportamental dos homens na praia. Evidentemente, não são só as mulheres praianas que por vezes acabam com a imagem da classe.
O mérito não é meu, mas a teoria é excelente. O texto original pode ser encontrado no Criaturas Crônicas .
Trata-se de um belo vislumbre do que acontece com um homem sobre a areia e debaixo do sol.
Fator Freudiano:
O homo praius, ao vestir apenas sungas, libera sua libido, agora protegida apenas por um pano, não dois ou mais. Assim, contrariando Darwin ao dizer que o homem não vem do macaco, mas fundamentalmente da cobra (explicação do fetiche animal que cada macho humano tem por si mesmo, narcisista de carteirinha e dono do pedaço _ maior pedaço é dele sempre), as células de racionalidade neurológica, já confusas, perdem espaço e impelem todos os sentidos atrás de bundas passantes, ignorando as frágeis, porém sempre desconfortáveis, ondas de valores morais e conjugais. Principalmente, a noção do ridículo.
Fator Edipiano Platônico:
Saudoso do calor materno do colo, ao despir cada mulher que por ele passa e que tenha seios fartos em seu cotidiano urbanóide, o homo praius entre em choque quando assiste a um desfile mamóide exuberante a cada segundo na areia. Concretização do sonho, até porque carnaval é uma vez ao ano e consegue enjoar, traumaticamente. Assim, ultrapassada a ponte que liga o imaginário ao palpável, o homem, perdido, cai de boca, ou abre a boca pra dizer besteira. Nestes casos, é comum perde um dente. Ou mais.
Fator Paraíso Libera-geral:
Farto do regramento asfixiante urbanóide, o homo praius vê todo mundo quase peladão e, entorpecido por sua naturalidade primata alcansável, faz um corte em 99% dos artigos de todos os códigos. Principalmente no penal e de trânsito, afinal, se até os brigadianos andam de sandália e bermuda, tá tudo dominado. Só acaba preservando alguns artigos do código civil, instintivamente, em nome da preservação de sua região glútea. Que vara de família dói.
Fator Caipirinha gelada:
Acostumado a cafezinho corrido no intervalo, o homo praius ganha um alucinógeno passageiro disfarçado dentro de um abacaxi com canudinho. Refrescante, este tipo de droga estimula seu consumo repetido, na combinação carbônica com o suor exalado pelo calor do sol. Impotente e esburacado, ozônio não segura mais a peteca, e o efeito torna-se mais rápido. O efeito destrutivo não está, na verdade, nas palavras que o homem diz às mulheres de biquíni, após ingerir determinada dose da droga. Está no fato de que elas nunca entendem muito bem o que ele diz.
Efeito Minhoca Molhada:
O homo praius não pega nem barata em sua vida urbanóide, de medo. Doenças, violência, mutações, essas coisas. Na praia, entretanto, molha a minhoca na água salgada, põe óculos escuros até com tempo nublado e pega a vara, exibido-a em riste como um obeso louva-a-deus gladiador na areia. Anuncia à arena, ou melhor, à areia, que o que cair na rede é peixe. Pega nada. Quando muito, algum refugo. Muitos saem do verão estudando processos contra alegação de paternidade. Sabem como é. Piranhas, piranhas.
Fator Direitos da Mulher:
Na primeira metade do século passado, a sociedade patriarcal previa apenas rolos de massa arremessados contra a cabeça do homo praius quando este chegava em casa, à milanesa e com marca de batom, contando história de uma luta contra siris gigantes nas dunas. O batom é que dava problema, naquele tempo o lixo não era equiparado ao status da areia como hoje. Com o advento do cartão de crédito e da liberdade feminina, não adianta nem reclamar. Que se bobear elas também vão lá, enfrentar tubarões e surfistas loiros, com saídas de banho sensuais, biquínis última moda minúsculos e o endereço do cirurgião plástico.
Ah...o verão...
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