quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Eu quero... Eu queria casar!


Sempre quis casar, quer dizer, essa vontade veio depois do filho. Isso mesmo, atropelei a cronologia de cerimônias, primeiro veio o batismo do meu filho e, depois de oito anos, o matrimônio ainda não chegou. Há um inconsciente cristão (católico) que me induz a querer o casamento. Passei boa parte da minha vida escolar enfiada em colégios de freiras, disciplina e bom costume eram como dois noivinhos no topo de um delicioso bolo de glacê, que eu não poderia meter o dedão, afinal, a cobertura era muito rígida.

O desejo de unir-me a alguém por uma aliança de ouro não é exatamente por estar apaixonada. Mas para que quando haja uma reunião de amigas, eu possa dizer “É, estamos casados e felizes!”. Acho que eu sempre quis dizer essa frase. Ela sempre foi tão imponente. Quando alguma amiga diz que vai casar e não está grávida ou teve filhos antes, eu me pego mordendo os lábios e me perguntando “Mas o que diabos há com você?”.

Dias atrás, numa mesa redonda de uma lanchonete, eu conversava com duas pessoas. Ambos haviam sido casados no papel. Eles foram intransigentes ao dizerem em voz graúda “Basta casar para o amor acabar. Não há amor que resista a contas atrasadas e ao dia-a-dia. O primeiro ano de casamento é terrível!”. Fiquei incrédula. Eles reafirmaram com fatos concretos. O desfecho, aquele que golpeou meus sonhos mais católicos foi “E o casal que diz que é feliz... É mentira! Pura mentira! É só pose!”.

Repeti a xícara de café, dessa vez sem adoçante. Na verdade, tentei experimentar a realidade por alguns segundos naquele gole amargo. Eles esperaram ansiosos por uma observação minha, contrai o maxilar num “É, eu não quero casar!”. Mas eu queria, quer dizer, eu quero. Mas não vou bancar a mulher maravilha, aquela que é pedida em casamento em toda esquina que chega. Tive muitos namoros , nunca fui noiva e quase nenhum fez menção ao matrimônio. Devo não ser alguém apaixonante para isso.

Meu ex-namorado, por exemplo, dizia não querer se casar. Ele julgava apavorante ter que entrar numa igreja e assinar uns papéis. Logo depois de me confessar tais desconfortos, o ponto final disso era “...embora eu te ame muito”. Nos separamos e, meses depois, ele pediu a sua nova namorada em casamento. Então, o problema é MEU! Essa frase sempre ecoa, como eu disse, quando recebo o convite de letras douradas de alguma amiga.

Até o Sidney Sheldon pisoteia sobre minha estima. Apavoro-me ao lê-lo, não por suas descrições viscerais sobre assassinatos misteriosos e perseguições resfolegantes. Mas quando descreve o amor cortante de suas personagens, uma Kelly Harris e uma Diane Stevens presenteadas por um amor afortunado, interrompido não pelas amarras de um domingo ou por uma conta de luz atrasada, mas apenas por uma morte. As personagens citadas eram pedidas em casamento intermitentemente por seus respectivos, após poucos dias do primeiro beijo. Até a ficção zomba de mim, concluo.

Quando tento afugentar o desejo do matrimônio para recobrar minha auto-estima, eu me concentro num domingo. O dia mais difícil da semana aos meus olhos, “difícil” emocionalmente falando. Lá estou eu e meu marido, sem ter para onde ir, afinal é domingo. Eu farei o almoço, ele estará largado numa cadeira. Talvez devamos ir à Igreja ou almoçar com minha sogra. O fato é que a visão deste cotidiano me perturba. Não sou eu na postura de cozinheira ou de uma boa cristã.

Após esta visão, o catolicismo me ergue com uma mão audaz “Deus está me protegendo”. Não permite que eu seja pedida em casamento para me livrar de dissabores posteriores. Só isso. Então, num fôlego sai um “Não há nada de errado, querida!”.



Zíngara




Um comentário:

  1. Me encontrei neste texto, me sinto exatamente assim em relação ao matrimônio, às vezes, me pergunto se suportaria a rotina, os programas familiares de fim de semana, acho isso tudo muito chato! Mas se não casar... sempre me perguntarei, por que eu? A sociedade nos fez assim!

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