sábado, 27 de setembro de 2008

Comer, rezar e amar



Embora as indicações para a leitura do Livro Comer, Rezar, Amar da escritora Elizabeth Gilbert parecessem bem convincentes, eu comecei a lê-lo sem muito entusiasmo. Obviamente que me identifiquei com vários trechos, como qualquer mulher por mais E.T. que seja se identificaria. É escrito em primeira pessoa, com a minúcia de lugares de três países bem discrepantes: Itália, Índia e Indonésia. Veja que todos começam com “I” que significa EU em inglês. É um relato da busca por si, ou melhor, da busca de uma mulher por sua paz. Uma mulher que não consegue estar só, sempre enfiada em relacionamentos desgastantes. Sempre curando um amor falido em outros braços. Há muito ela não sabe o que é ELA, o que é SER ELA.

Não sei vocês, mas quando estou num relacionamento faço tudo para dar certo. Ofereço absolutamente tudo que tenho, sou capaz de adoecer e ficar sem um tostão furado no bolso. Fico impregnada da pessoa, sou capaz de agregar seus trejeitos faciais aos meus. De forma que quando termina, se me olho no espelho vejo a pessoa ali: Estampada. Por isso geralmente pinto o cabelo quando saio de um, ainda não o fiz. Mas muito em breve voltarei a ser ruiva.

Ah, a Itália. Que mulher não gostaria de conversar com italianos e respirar o frescor italiano? Falar italiano já é muito sexy (não é à toa que uso o codinome Zingara, lê-se zíngara, cigana em italiano). Mas a nossa personagem sente todos os atrativos da culinária de lá, mesmo que exista sexo transbordante em cada rua italiana. Quando a nossa personagem se põe a descrever a postura dos homens e como eles se apresentam, eu digo num tom alto, fechando o livro “Eu vou para a Itália”, mas lembro que fiz voto de castidade até 2010. Então, não, definitivamente eu não quero ir para lá.

Mais tarde na Índia, você aprende bastante sobre meditação e sobre a cultura “guru” que faz esse povo levantar às 3 da manhã para exercícios de respiração e o encontro com Deus. Depois de extravagâncias alimentares na Itália, a nossa personagem se deu bem, emagrecendo tudo o que foi ganho em massa corpórea. Afinal, meditação e comida não funcionam muito bem juntas. O verbo aqui é o “rezar”, tão conjugado durante toda a viagem. Uma coisa que me intrigou e que estranhamente passei a fazer é... sentar-me ereta antes de dormir e sorrir. Sorrir em silêncio, lembrar de fatos bons e sorrir. Obriguei-me a isso. Quando se sai de um relacionamento de anos, é preciso se fazer algum bem: Alguns têm recaídas, outros abraçam a vida nua e crua sem paliativos. Desta vez, escolhi a segunda opção. Adendo, a autora não aprendeu essa meditação na Índia e, sim, na Indonésia. Mas tive que mencionar o fato, pois poderia me esquecer mais lá na frente. Já que a ênfase neste parágrafo é meditar, rezar, idealizar, evoluir, respirar.

Até que enfim, ela ama. Depois de quase um ano na masmorra de si, ela se apaixona. Mesmo não querendo. E é na Indonésia. Não vou dar detalhes sobre isso para não quebrar o encanto. Vou me ater apenas em dizer que este é o desfecho. Depois de mais de um ano, ela encontra alguém.

Escolhi o livro obviamente por me identificar com as trapalhadas da autora. Eu que não sei me equilibrar nesta vida sem ter alguém segurando a minha bendita mão. O que descobri lendo este livro não é que preciso fazer uma viagem. Até adoraria, mas “me falta-me grana” (quer trocar Lady Kate?). Mas que não é um homem que mudará sua vida. Mesmo que nossa personagem tenha caído na “cadeia alimentar” outra vez, ela ainda me inspira.

Não sou boa com a abstinência de homem. Mas é o mais sensato para se fazer por um tempo, se desintoxicar. Olhar-se e entender que você gosta de literatura estrangeira e não de brasileira como seu parceiro apreciava. E, sim, você quer sair todos os sábados e dançar bastante. Ficar no sábado à noite em casa nunca foi a sua, mas você fazia para manter a paz do outro. Não a sua, quer dizer, falo por mim. Definitivamente, não sei me relacionar.

Ouvir a minha respiração, e só ela, tem sido um grande desafio. Eu deixo aqui um “Leiam, meninas!”. Algum trecho do livro fará você dizer “Ah, eu não sou tão maluca!”.


Zíngara

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