segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Bastidores de uma traição


Falar de traição sempre foi difícil para mim, quando pequena eu assistia de camarote os conflitos do relacionamento dos meus pais: uma briga aqui outra ali, exposições e vexames em público, e eu nunca conseguia entender porque diabos minha mãe não o deixava.

Já na minha adolescência enfrentei a mesma dor que minha mãe, e prometi a mim mesma nunca proporcionar isso a ninguém.

Sempre fui de muitos relacionamentos, me jogava de um homem a outro, mesmo com uma ferida ainda cicatrizando, talvez fosse apenas para abafar a dor que tinham deixado. Alguns anos depois, me vi em um relacionamento amando de novo! Com ele eu cheguei perto do que, com meus ínfimos 17 anos, pensava que era felicidade, e eu não tinha olhos pra ninguém a não ser AQUELE amor, passei anos assim, fazendo de tudo aceitando todos os defeitos, engolindo sapos, me rebolando e me fazendo de surda para qualquer tipo de crítica (por mais construtiva que pudesse ser). Na minha cabeça, eu viveria a vida da Barbie e ninguém tinha o direito de opinar em nada, o cultuava como o próprio Buda, estava abrindo mão de mim em prol de um bem muito maior: passar a vida inteira ao lado dele.

Um belo dia, eu acordei com uma abelhinha na minha cabeça, essa abelhinha não parava de zunzunar no meu pensamento:

- É assim que quer passar o resto da sua vida? Antes de se entregar por completo porque não aproveita o pouco que te resta?

Não entendia porque essa sensação de infelicidade crescia, lembro do dia em que eu fui provar meu vestido de noiva, eu me olhava pelo espelho com uma profunda tristeza, e, definitivamente, sabia que tinha algo errado. Então decidi mudar, mas como sair de uma armadilha que eu mesma criei? Apesar de não saber como, já não conseguia olhar o mundo do mesmo jeito. Passei a sair e escutar mais meus amigos, e, de repente, os atos do meu amado que outrora me pareciam a coisa mais fofa do mundo, começaram a me frustrar. Eu já não dedicava mais minhas horas vagas fazendo lembrancinhas de casamento, passei a valorizar o tempo que me restava para conhecer o tal mundo em minha volta.

Foi aí que o mundo olhou de volta e me vi do lado das linhas inimigas. Conheci outro homem. Logo eu! Tão santinha e defensora dos bons costumes, não acreditava que o destino estava fazendo isso comigo! Afinal, minha vida já tinha sido devidamente programada até minha morte. Mas estava decidido, seria só uma vez e nunca mais, eu merecia experimentar isso, eu merecia conhecer o lado negro da força.

Eu fui e sabia o terreno em que pisava. Prometi que não ligaria no dia seguinte, que deletaria o episódio da minha memória com a rapidez de um click de um mouse... mas foi ai que me enganei. Foi a coisa mais certa e a mais errada que já me aconteceu. Eu só pensava que com esse desconhecido eu não podia ficar, ninguém tem direito a tanta felicidade assim, nada nessa vida pode ser tão certo, coisas assim não existem, eu sempre fui católica, minha gente, meu complexo de culpa falava mais alto!

E no outro dia eu já não conseguia olhar meu companheiro, e comecei a questionar as atitudes de meu pai, como ele podia trair minha mãe e continuar com ela? Como ele conseguia anular esse sentimento de novidade e de perigo que estava estampado em todos aqueles que traem??? Eu não nasci para ser assim. Mesmo sem saber mais do meu futuro, eu só tinha uma certeza:

Eu não podia mais continuar com uma relação falida. Por mais sem caráter que eu fosse, não merecia isso. E que morressem todos!

E assim, proporcionei a dor que havia desejado nunca proporcionar a uma pessoa, mas eu já não o amava, e sabia que ele também tinha causado a mesma dor à outra pessoa por quem ele, noivo, deixou para ficar comigo. O carma existia e estava materializado em nós, todos os pedidos de reconsiderar soavam como sons de chicotes em minha mente, ceder à estes atos desesperados de amor seria o mesmo que voltar à sala de torturas do carrasco, e, mesmo que ficasse sozinha, com ele eu não ficaria, já não era questão de traição, mas sim de futuro. Meu lugar não era ao lado dele.

Minha traição foi como um terremoto que gera uma reação em cadeia, no meu novo emprego todos percebiam minha angustia, minha família apesar de todas as críticas, preferia que eu morresse casada infeliz a uma solteira feliz. No fim das contas, eu comecei a me questionar sobre os reais motivos de uma traição, já não olhava homens e mulheres de formas diferentes, eu via pessoas que tinham um propósito em comum:

Ser o mais feliz que pudessem.

E para quem está lendo me chamando de vadia e se revirando na cadeira, lembrem-se que o mundo dá voltas. Eu escolhi o caminho "errado" (que me parecia mais certo) e funcionou. Numa relação amorosa, as razões para se trair podem ser várias e com variantes, pois em todas elas existem natural e instintivamente sentimentos de posse, ciúme, insegurança, incompatibilidade de caráter e de personalidade; e a infidelidade acaba por ser muito mais suportável que a separação. Pense bem antes de apontar o dedo, existem três apontando para você.



Candy May

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