sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sobre Homo Sapiens e Tinturas Capilares

*O texto é grande, e cheio de ironias. Não significa que porque o escrevi, penso realmente que as coisas devam ser dessa forma. Lembre-se, ironia is the new black!

Um exemplo de dedicação ao relacionamento!

Hoje, eu parei pra fazer um balanço dos meus últimos relacionamentos. E os de minhas amigas. E os de minhas conhecidas. E percebi, para meu espanto, que a maioria deles exige mais tempo e dedicação da mulher do que do homem. Inclusive os meus.

Muito bacana conhecer um novo homem com qual há uma possibilidade de flerte. Se ele for interessante, qualquer mulher que se preze vai investigá-lo um pouco, pra saber em que terreno está pisando. Se tiver amigos em comum, então, os caminhos tortuosos das descobertas implícitas serão desbravados de qualquer maneira. Porque, acredite, não é fácil arrancar da sua amiga o nome da ex do cara, sem que ela perceba que você está a fim dele!

Aí entra a parte do orkut, onde se descobrem afinidades e ocupações. Mas orkut é coisa recente. Segundo minha pesquisa não-científica com quatro tias, antigamente as mocinhas descobriam fatos através de amigos ou conhecidos mesmo.

Qual é o papel dos homens nessa fase? Nenhum. A não ser que ele esteja interessado também. Mas homens, normalmente, são desligados nesse assunto. Demora mais uma etapa pra que eles entrem em ação de fato.

Depois disso, vem a fase dos telefonemas. E é aí que as mulheres usam um de seus melhores truques: a meiguice. Porque, claro, todo homem ama uma mulher meiga! Até os olhares, em esbarrões rápidos, são treinados para passar imagem de doce e meiga. Mesmo que a mulher seja safada no estilo “me joga na parede no primeiro encontro”, em algum momento de sua vida ela já usou o truque do açúcar. E ele é infalível, a não ser quando o homem gosta de mulher-macho. Nessa fase de ligações e esbarrões, o homem também não precisa fazer muita coisa. Se a mulher o tiver escolhido como possível alvo, qualquer cumprimento que ele dê já será encarado como uma evolução. Sim, mulher é burra nesse sentido. Se você parar pra conversar com ela cinco minutos após ela ter dado uma risadinha tímida, ela já vai imaginar que você está na dela. Porque estará. Muito em breve. Ou o Santo Antonio volta pra geladeira e não se fala mais nisso.

Após essa fase, vem a fase do encontro, a fase do sexo casual, a fase do sexo com amor, a fase de conhecer a família... Como essa história termina, nem eu sei direito. São muitas fases, e cada mulher faz seu próprio roteiro, mesmo que nunca tenha parado pra pensar conscientemente sobre esses passos. E faz isso porque ama. Se não ama o homem ainda, ama a si própria o suficiente pra saber que merece um homem. Porém, o que acontece, é que ultimamente, o peso de uma relação tem caído praticamente todo sobre os ombros das mulheres. O ponto onde quero chegar, é, justamente... Quanto tempo um homem dedica aos seus relacionamentos, atualmente?

Essa não é uma pergunta fácil de responder, mas vamos lá. Segundo minha avó e algumas tias coleta de informações, algumas décadas atrás, iniciar e manter um relacionamento era obrigação praticamente exclusiva do homem. Ele aprendia a tocar violão e fazia serenatas, com cravo na lapela, embaixo da janela da mocinha (ainda bem que essa época passou). Ele escrevia poemas (quantos poetas existem hoje?) e enviava bilhetinhos escondidos. Não me espantaria descobrir que Graham Bell, bolado de amor por uma vizinha que foi morar no Alaska, inventou o telefone pra ouvir a voz dela e desligar em seguida. Também não me espantaria descobrir que e=mc² significa, na verdade, uma piadinha interna entre Einstein e Mileva Maric, e que a humanidade anda trocando os significados (heh!) desde 1900 e bolinhas.

A verdade é que, desde que alguém resolveu sair caçar e deixar as mulheres sozinhas na caverna, a conspiração ganhou corpo. Porém, só lá por meados dos anos 70 é que a idéia tão embalada por anos e anos pôde sair. As mulheres já vinham escrevendo o manual da conquista há séculos, só que o homem não sabia disso. E agora sabe.

Somos pós-doutoradas na arte de atrair um relacionamento. Quando ainda éramos escravas domésticas, inventamos a culinária gourmet (atraia um homem pelo estômago, já dizia a matrona do Brasil colonial). Agora que estamos livres da maioria dos tabus, podemos usar nosso arsenal sem medo. Se achamos nossos peitos pequenos demais, colocamos silicone. Inventamos a tinta de cabelo para o caso de estarmos insatisfeitas com nossas mechas. Reinventamos a moda, criamos decotes, nos especializamos em classificar a concorrência e valorizar nosso passe (“a vulgaridade é alheia”). Freqüentamos a academia, o show, a aula de dança. Dependendo do público-alvo, as opções são outras: café, biblioteca, cinema. Algumas de nós tem gostos estranhos. Céus, como é que elas preferem encontrar seus homens no jogo de futebol? Ou na aula de eqüitação? Ou no baile funk? De qualquer forma, cada mulher sabe fazer o seu jogo. E descobre onde ele trabalha, e checa informações, e pinta o cabelo, e usa unhas vermelhas. O relacionamento é nosso. Somos nós quem atraímos vocês primeiro, e não o contrário, como há cinqüenta anos atrás. Aliás, outro parênteses: como não somos muito estéticas, não implicamos com suas pancinhas. Analisem a foto de um homo sapiens sapiens primário e de um atual. Perceberão que, excetuando-se os pêlos e alguns formatos de queixo, a visão é praticamente a mesma. Já, nós, como percebemos que vocês adoram uma esteticazinha, inventamos o lifting e o bronzeamento artificial. Não somos ótimas?

Dedicamos muito mais tempo ao relacionamento que vocês. Em todas as etapas, lá estamos nós, quebrando a cabeça pra descobrir se é melhor usar preto ou colorido, e como misturar as cores sem parecer palhaça de circo infantil. Vocês, hoje, dedicam pouco tempo porque, simplesmente, o maior trabalho é o nosso! Vocês não se encontram em dilemas como “quero dar logo, sem parecer fácil!” e “não quero demonstrar que estou louca por ele!”. Suas tarefas são simples. Pagar a conta, olhar com cara de macho, isso é algo que (utopicamente) já está inserido em seus cromossomos desde a época dos vikings. E é por isso que vocês não dedicam mais do que cinco minutos ao relacionamento. Porque cinco minutos é o suficiente pra perguntar “foi bom para você?” e a garota (boba) imaginar que isso demonstra o quanto você é preocupado com ela e o quanto se esforça para tentar fazê-la eternamente feliz.


Penélope.

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