segunda-feira, 16 de março de 2009

Confabulando e conspirando e seguindo a canção...

Eu sempre tive a leve impressão de que a liberação feminina era uma farsa. Uma farsa bem arquitetada e plantada em nossas vidas, ditando nossas atitudes e pensamentos. Mas eu poderia estar apenas sendo eu mesma, Patsy - a louca das conspirações infundadas, tentando achar cabelo em ovo. Mas, há alguns dias, eu estive com um exemplar de um periódico antigo chamado "Revista Feminina" que ditava regras de bom comportamento para as damas criarem um ambiente harmônico no lar e agradarem seus donos, ops, digo, respeitáveis maridos ou noivos.

A revista, além de dicas de moda e cabelo extremamente tradicionais, oferecia um enorme manual de comportamento feminino. Regras de etiqueta e boas maneiras que incluíam como posicionar o cinzeiro e os chinelos do esposo relaxar após um longo dia de trabalho. Argh, argh aaaargh. Todas as páginas eram uma incitação à queima de sutiãs em praça pública. Se eu, que não sou a rainha das feministas ululantes, me revoltei, tenho medo do que mentes mais iradas possam fazer ao esbarrar com um exemplar desses na banquinha de tralhas usadas da esquina.

Fazendo uma pesquisa sobre o assunto, descobri que essas revistas eram obrigatórias para qualquer moça de respeito. Ditavam regras, de verdade. Regras absurdas para nossas cabeças liberais dos anos 2000, mas pertinentes ao período histórico e a cultura machista brasileira. Encontrei algumas frases marcantes e chocantes da época, retiradas do Portal das Curiosidades:
* Não se deve irritar o homem com ciúmes e dúvidas. (Jornal das Moças, 1957);
* Se desconfiar da infidelidade do marido, a esposa deve redobrar seu carinho e provas de afeto. (Revista Cláudia, 1962);
* A desordem em um banheiro desperta no marido a vontade de ir tomar banho fora de casa. (Jornal das Moças, 1945);
* A mulher deve fazer o marido descansar nas horas vagas. Nada de incomodá-lo com serviços domésticos. (Jornas das Moças, 1959);
* A esposa deve vestir-se depois de casada com a mesma elegância de solteira, pois é preciso lembrar-se de que a caça já foi feita, mas é preciso mantê-la bem presa. (Jornal das Moças, 1955);
* Se o seu marido fuma, não arrume brigas pelo simples fato de cair cinzas no tapete. Tenha cinzeiros espalhados por toda casa. (Jornal das Moças,1957);
* A mulher deve estar ciente que dificilmente um homem pode perdoar uma mulher por não ter resistido às experiências pré-núpciais, mostrando que era perfeita e única , exatamente como ele a idealizara. (Revista Cláudia,1962);
* Mesmo que um homem consiga divertir-se com sua namorada ou noiva, na verdade ele não irá gostar de ver que ela cedeu. (Revista Querida,1954);
* O noivado longo é um perigo. (Revista Querida, 1953)
* É fundamental manter sempre a aparência impecável diante do marido. (Jornal das Moças, 1957);
* E a minha "favorita": O LUGAR DE MULHER É NO LAR. O TRABALHO FORA DE CASA MASCULINIZA (Revista Querida, 1955).

Aí você respira aliviada e diz "ufa, ainda bem que estamos em 2009". Refeita do baque, caminha até a banca de jornal mais próxima e encontra manchetes do tipo:

* Os 7 passos de um casamento feliz para sempre. Saiba como facilitar a jornada amorosa e acertar o passo!
* Ele é diferente de você? 23 dicas para mudar radicalmente e conquistar seu gatinho estiloso!
* 1001 maneiras de ceder e evitar brigas com seu amor!


Tudo para que você se adapte e reformule sua vida para satisfazer os loucos desejos do seu amado! Está tudo ali, tudo de novo, mas nas entrelinhas. Se você ler com bastante atenção perceberá que o mesmo discurso está lá. Em cada página. Sabe o que eu tenho a dizer sobre estes artiguinhos de merda? Ppfffffffffffff. E eu não entendo aonde eu errei, porque eu sou produto de anos e anos de leituras dessas porcarias, que me dizem como ser uma mulher dos anos 50 com uma roupinha indie e moderninha. E eu demorei quase 20 anos para perceber que eles estavam brincando com a minha cabeça!

Eu já fiz coisas absurdas por namorado, peguete e objeto de interesse. Sabe o porquê? Fui motivada por esta falácia infernal que sempre me encorajou a ser a melhor para os outros e não para mim! Vou mandar minha conta do psicanalista, minha gigante conta do Complexo de Cinderela, direto para a Editora Abril.

E façam um favor a vocês mesmas e PAREM de ler essas revistas-bomba e leiam o Corporativismo Feminino, viu? Mas sempre leiam a Vogue, porque é um loosho e ela não mente. E reclamem comigo na comunidade no Orkut também, vou descarregar minhas neuroses por lá!


Para me aconselhar psicologicamente, me convidar para passeatas pseudo-feministas ou divagar sobre teorias da conspiração e a existência do ET de Varginha, mande um e-mail para patsy@corporativismofeminino.com

Besos, besos!

Patsy

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