terça-feira, 9 de março de 2010

Pânico, oi?!

Acredito que muitas leitoras se identificarão com o texto da Aline Cristal e, por isso, decidimos publicá-lo. Esse espaço é para trocarmos ideias afinal.

Segue:

Sempre fui medrosa. Desde pequena, sempre tive medo de me perder da minha mãe no mercado, de ficar sozinha na escola, de me machucar. Sempre fui assim. Mas quando a criança virou mulher, e o medo virou pânico, a coisa mudou de figura.

Quem nunca teve um ataque de pânico não é capaz de entender, e muito menos de te dar a fórmula mágica. Já ouvi de tudo: “Eu já tive isso", "Isso é coisa da sua cabeça" e “Isso é problema espiritual / fizeram um trabalho para você” são os mais recorrentes. A maioria das pessoas acha erroneamente (e eu também achava) que quem tinha pânico ficava enjaulado dentro de casa, esperando o mundo cair na sua cabeça, com os olhos esbugalhados de terror. Essa é uma imagem mentirosa, preconceituosa e limitada.

Se falo que tenho pânico, as pessoas instantaneamente me julgam como louca ou me perguntam: “Mas você tem medo de quê?” É frustrante não poder explicar a complexidade de uma síndrome do pânico. Tem que se viver o pânico para entendê-lo.


Quando você corta o dedo, sangra. Quando você dá uma topada na porta, o mindinho dói. Simples assim. Seu corpo obedece a estímulos reais. Agora, quando seu coração vai a milhão, seu braço esquerdo lateja e seu rosto adormece o que você pensa? Faz todos os exames possíveis para o médico dizer que você não tem NADA. Mas na hora do vamo vê, é muito difícil acreditar que "Isso é coisa da sua (minha, no caso) cabeça". Por quê? Porque o medo que cresce na altura do estomago te domina e sobreviver é instintivo, for God sake!!! E naquele frenesi, você acha que a vida vai lhe ser tomada antecipadamente e sem aviso e você pensa em tudo que não viveu, em todos seus sonhos que serão roubados. No sonhado casamento de princesa, naquela casa própria, e aquela viagem pro exterior e aqueles filhos que você nunca vai ter...

É injusto pensar tanto na morte, quando se tem tanto para agradecer à vida. Não é fácil, não é engraçado, não é frescura. É uma luta diária a cada sintoma que eu finjo não notar, a cada pensamento obsessivo que eu abafo com uma música alta. Passam semanas, meses até e você pensa: " Sumiu, estou curada. Nem lembro mais como era, que coisa de louco!!" Só que numa quinta-feira cinza qualquer, você acorda como eu acordei hoje. Cheia de medos e sintomas. E isso faz você se sentir um ser humano fraco, impotente e medroso. Alguns dizem que o pânico é a nossa vida piscando e dizendo: HEY, ME DÁ ATENÇÃO!!! E é aí que você se olha. Verdadeiramente. Então eu respiro fundo, tomo um lexotan, leio o Salmo 23 e me sinto a mais corajosa das mulheres.


UPDATE: Quem quiser conversar com a Aline Cristal basta escrever para bebecristal@gmail.com

18 comentários:

  1. eu sei mais ou menos como eh isso, minha irmazinha tb eh assim..chato neh..mas legal a menina desabafar dessa maneira e fazer as pessoas pensarem um pouquinho,se por nas peles das outras ao inves de rir ou julgar precipitadamente.

    Mt interessante!

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  2. Confesso que eu sou (ou era, ainda não sei) uma das pessoas que "não entende". Minha mãe já teve isso... e mesmo vendo, fica difícil acreditar que os sintomas são sim físicos e não psicológicos. É difícil acreditar que aquilo está realmente acontecendo com alguém tão próximo. No caso dela, era falta de medicação para pressão. Acarretou zilhões de problemas, inclusive este... graças a Deus, ela foi internada e desde que saiu (faz uns 2 anos) não teve mais esses problemas!

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  3. Realmente só quem tem sindrome do panico sabe exatamente o que é sentir tudo isso!! Seria tão bom se todos respeitassem!
    beijoss

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  4. Aline, companheira do Pânico, você descreveu com maestria como nos sentimos tendo Transtorno do Pânico.
    Essa incompreensão nos deixa reféns do mundo.
    Já tem 6 anos que estou curada, bem como mais 5 pessoas da minha família. E só por isso temos o entendimento em casa.
    Parabéns pela inciativa de informar pessoas sobre isso.bjs

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  5. Só quem passa consegue compreender direito. Mas creio que aprender a se ver, tomar lexotaqn e ler salmo é um bom começo... na torcida!!!

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  6. Adoro seu blog. Muiito lindo
    Já estou te seguindo!

    :)

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  7. Não quero tratar o assunto como banalidade, mas já me senti asfixiada depois de passar meses sem ver a multidão. Em contrapartida, larguei uns meses o carro e andei de metrô para "não me entregar".

    Não sei se foi um prenuncio da síndrome, mas sempre ME OBRIGO a desafios.

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  8. excelente seu depoimento, sou mais uma q tbm tem sp e pense e age como vc...

    Não existo, EU VIVO!

    Forte e querido Abraço!

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  9. Obrigada todas pelo carinho.De verdade!!!
    Só esclarecendo um erro bem comum.
    O medo de sair de casa,de multidões chama-se Agorafobia (muitas pessoas confundem com a Sindrome do Pânico).
    Não necessariamente um portador de Sindrome do Pânico tem Agorafobia.
    Eu mesmo tive apenas 2 meses,logo qndo o pânico veio.Mas é o que a Zingara falou. É um exercício.
    Forçando os limites pouco a pouco,ela diminui.
    É isso ai,heroínas...fico feliz que tenham gostado ;)

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  10. Olha, eu cinceramente sou evangélica e gosto muito do blog, e o que eu penso sobre isso, nunca cheguei a ter a sindrome do pânico realmente dita, mas sempre fui muito medrosa, sempre tive medo de escuro, de me perder e muitas vezes acabei deixando de viver algumas coisas pelo medo, e quando eu entrei pra igreja eu me libertei, muitas pessoas tem pre-conceito disso, mas é verdade a gente não tem que seguir nenhuma religiao, muito menos temos que ter pre conceito quanto a religiosidade dos outros, mas o que eu queria contribuir é que existem coisas ruins em nosso mundo espiritual, e temos que cuidar delas. Beijos meninas, adorei o testemunho

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  11. Querida amiga avassaladora... Aline.
    A ignorancia sobre este e muitos outros males é a parte mais dolorosa da enfermidade. Parece aquela fominha que dá a noite, uma vontade de comer não sei o que...Esse medo paralisante pode surgir apos algum evento significativo ou apenas aparecer do nada(aparentemente)... Graças a pessoas corajosas como voce, muitos estão sendo bem assistidos e as pesquisas sobre essa sindrome cruel estão cada dia mais avançadas e eficazes nos tratamentos possiveis.
    Saude pra ti! Porque coragem voce já tem, e muita!!!
    Venha nos visitar tb.
    bjkinhas

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  12. Não tenho síndrome do pânico graças a Deus, mas já tive algumas crises de pânico inexplicáveis, não constantes. Só uma vez (e há pouco tempo) ela foi pior, quando viajei a São Paulo e tive a certeza de que não ia voltar. Cheguei a me despedir de meus pais e alguns amigos, bem discretamente com medo de eles me acharem louca.
    Quando voltei da viagem e estava viva, chorei. No dia seguinte contei a minha mãe, que obviamente, achou que eu estava louca.
    Acho que o pior de tudo são as pessoas não conseguirem entender e julgar quem sofre com isso. Eu não sei se suportaria.

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  13. Fofa, já tive pânico e sei bem o que é, mas relaxa, faz uma yoga que ajuda. Durante as crises faça coisas que vc tenha que se concentrar, como contar. O pior são as pessoas que não sabem e nunca tiveram isso dizer que é frescura. Melhoras :)

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  14. Só sei que dói acordar sentindo que está despencando do vigésimo andar e falta pouco para se estatelar lá embaixo. Sei de tudo isso o que você está falando. Hoje em dia acho ilusão achar que vai passar de vez, ainda que o monstrinho passe meses escondido.

    As pessoas da minha casa nunca compreenderam direito o que se passa comigo. Talvez nunca compreendam. Isso até é bom se eu pensar que, pelo menos, eles são saudáveis.

    Boa sorte com seu monstrinho :)

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  15. Nunca tive síndrome do pânico. Nunca tive sintomas físicos, mas sou tããão medrosa.
    O que mais me incomoda é andar na rua sozinha, mais pra lugares que eu não conheço, já que tenho uma facilidade enooooorme de me perder. Fico, no caminho, às vezes, rezando pra achar o lugar, já que, às vezes, erro o caminho de lugares até que conheço. E, quando me perco, tenho vergonha de demonstrar, sabe, fico disfarçando, e aí me perco mais.
    Enfim.. só nunca acho que é importante o suficiente pra procurar ajuda.

    Beijos e sorte ;**

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  16. Não tenho síndrome do pânico, mas já disse em muitos canais através da internet, e não é nenhum segredo que eu tenho um transtorno de personalidade... borderline e dístimia, diagnosticado há 2 anos, antes disso já recebi outros diagnósticos, mas esse foi o mais preciso.

    Comento isso porque tratam síndromes, transtornos, distúrbios como mera frescura. Minha família diz que devo tentar me controlar, mas é um desequilíbrio químico, associado com uma programação em meu cérebro feita após anos com experiências traumatizantes.

    Muitas pessoas respeitam diabéticos, hipertensos... deficientes físicos, mas pessoas com transtornos são simplesmente "frescos", "emos", "infantis", "fracos".

    Sou usuário de drogas, me auto-mutilo, já fui internado, já tentei suicídio, sou compulsivo sexual, não sei me relacionar e ninguém compreende. Não quero que passem a mão na minha cabeça quando apronto, nem que sintam pena... quero apenas respeito... não olhares de medo, asco ou ser visto como fresco.

    Respeito pra mim é para todos com algum problema mental. Ninguém escolhe ser assim, eu me trato, quero mudar, faço o que posso... luto com o que tenho, todos os dias.


    Boa Sorte Cristal.

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  17. caracaaaaa!!!!! Vc me descreveu agoraaa, tenho sindrome do panico.... adoreiii,rs.. vo guardar sempre comigo esse textoo!!! Lívia

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  18. oi visite o meu blog da síndrome do pânico, uma experiência pessoal-infernal, obrigado.

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