Por quase 5 anos eu só contraia o maxilar.
Nunca fui de começar a dieta na segunda, começo no sábado, assim que nego um convite para um rodízio de massas. Nem sempre fui assim, sempre adiava as coisas para outro dia, outra semana. Hoje se o ziper da bolsa quebra, eu dou um jeito de ir no mesmo dia consertá-lo.
Passei a entender a vida de outro modo, com outras cores e efemeridades depois que perdi um amigo de escola. Sim, perdas e mortes são também inícios e ganhos, mesmo que no momento em que eles aconteçam não pareçam ter essa frugalidade – Já disse algo parecido o autor do livro “As 5 pessoas que você encontra no céu” (recomendo). O amigo em questão não foi meu amigo de infância, não guardo memórias de boas frases saidas da boca dele, mas eu o conheci na época do atormentado vestibular e ele, doente, só pensava em pegar os meus cadernos para copiar as aulas perdidas. E, bem, para ele só restavam alguns dias e ele usou seus dias, suas poucas horas, estudando para o vestibular que nunca fez.
Já se passaram muito mais de 10 anos e eu sempre penso um pouco no meu amigo, em todo o seu empenho em estudar nos miseros instantes que lhe restavam. E eu me concentro, sempre noto que a vida é muito maior, muito mais valiosa e que às vezes a desdenhamos.
E guiada pela vontade de ser feliz, porque talvez me restem poucos meses (e talvez me sobrem anos), que ao fazer uma viagem a passeio para minha terra natal acabei ficando. O engraçado é que eu havia preparado uma mala muito recheada, com 10 pares de sapato, para passar apenas 10 dias. A intenção nunca foi ficar, nunca cogitei sequer estender o passeio. Era um mero passeio, eu ia rever meus amigos, os parentes, ver o mar e voltar mais bronzeada para a cidade que eu estava residindo.
Mas, bem, rever o mar não foi meramente lançar os olhos sobre um amontoado de água salgada e rever meus amigos não foi apenas percebê-los mais magros ou mais bem sucedidos. Ver aquilo tudo foi como um turbilhão de promessas, a promessa que havia um lugar onde eu podia ser eu de novo, aquela que eu matei quando decidi me adequar a concreto, a saltos altos e trânsitos intermináveis.
Eu estive namorando uma pessoa que não se parecia comigo. Eu estive fazendo balizas por aí, evitando falar tanto “visse” ao final de cada frase. Eu estive conversando com pessoas que nunca chuparam patinhas de caranguejo com os pés enterrados na areia da praia, que não sabem o que quer dizer a expressão “É pra se fudê e morar em Bayeux”. Eu estive andando num metrô apertado com pessoas preocupadas com seu próprio bem estar. Eu estive fora, muito longe, sem ver o mar, sem me ver.
Eu decidi ficar em João Pessoa. Deixei tudo para trás. Mas o que é tudo? O que deixei não me faz falta, eu estou bem agora e sei que ficarei melhor. Não me adaptei ainda em ser eu, estou indo aos poucos, engatinhando. Havia esquecido que minha pele é realmente muito oleosa, a secura de Brasília amenizou esse fardo. Havia esquecido que as 17h o sol começa a esmorecer e que se você não acorda cedo o dia fica ínfimo. Esqueci também que chega-se de uma noitada com o sol já quente, porque aqui o sol nasce primeiro.
E é onde o sol nasce primeiro e é onde você está que eu quero ficar. Porque é aqui que eu nasci, não importa que as pessoas se amontoem para entrar no ônibus e que a faixa de pedestre não seja respeitada. Ninguém é educado socialmente, diriam os de fora, o que digo é que somos felizes e não hipócritas o suficiente para apenas PARECERMOS uma população educada. Do que adianta deixar que o outro passe a faixa de pedestre, se estamos furiosos por que alguém parou o trânsito? Isso tem que ser feito por que queremos, não porque há uma regra social nos impondo. Assim gera-se uma população mal amada, depressiva que apenas faz o que é LEGAL – no sentido de legalidade juridica.
E não me importo se esse texto soar auto-ajuda, conversa de botequim ou qualquer coisa que o valha. Eu só quis contar a vocês que eu aprendi a voltar, a recomeçar e não se espantem se eu anunciar que fui embora pra outro lugar.
Passei a entender a vida de outro modo, com outras cores e efemeridades depois que perdi um amigo de escola. Sim, perdas e mortes são também inícios e ganhos, mesmo que no momento em que eles aconteçam não pareçam ter essa frugalidade – Já disse algo parecido o autor do livro “As 5 pessoas que você encontra no céu” (recomendo). O amigo em questão não foi meu amigo de infância, não guardo memórias de boas frases saidas da boca dele, mas eu o conheci na época do atormentado vestibular e ele, doente, só pensava em pegar os meus cadernos para copiar as aulas perdidas. E, bem, para ele só restavam alguns dias e ele usou seus dias, suas poucas horas, estudando para o vestibular que nunca fez.
Já se passaram muito mais de 10 anos e eu sempre penso um pouco no meu amigo, em todo o seu empenho em estudar nos miseros instantes que lhe restavam. E eu me concentro, sempre noto que a vida é muito maior, muito mais valiosa e que às vezes a desdenhamos.
E guiada pela vontade de ser feliz, porque talvez me restem poucos meses (e talvez me sobrem anos), que ao fazer uma viagem a passeio para minha terra natal acabei ficando. O engraçado é que eu havia preparado uma mala muito recheada, com 10 pares de sapato, para passar apenas 10 dias. A intenção nunca foi ficar, nunca cogitei sequer estender o passeio. Era um mero passeio, eu ia rever meus amigos, os parentes, ver o mar e voltar mais bronzeada para a cidade que eu estava residindo.
Mas, bem, rever o mar não foi meramente lançar os olhos sobre um amontoado de água salgada e rever meus amigos não foi apenas percebê-los mais magros ou mais bem sucedidos. Ver aquilo tudo foi como um turbilhão de promessas, a promessa que havia um lugar onde eu podia ser eu de novo, aquela que eu matei quando decidi me adequar a concreto, a saltos altos e trânsitos intermináveis.
Eu estive namorando uma pessoa que não se parecia comigo. Eu estive fazendo balizas por aí, evitando falar tanto “visse” ao final de cada frase. Eu estive conversando com pessoas que nunca chuparam patinhas de caranguejo com os pés enterrados na areia da praia, que não sabem o que quer dizer a expressão “É pra se fudê e morar em Bayeux”. Eu estive andando num metrô apertado com pessoas preocupadas com seu próprio bem estar. Eu estive fora, muito longe, sem ver o mar, sem me ver.
Eu decidi ficar em João Pessoa. Deixei tudo para trás. Mas o que é tudo? O que deixei não me faz falta, eu estou bem agora e sei que ficarei melhor. Não me adaptei ainda em ser eu, estou indo aos poucos, engatinhando. Havia esquecido que minha pele é realmente muito oleosa, a secura de Brasília amenizou esse fardo. Havia esquecido que as 17h o sol começa a esmorecer e que se você não acorda cedo o dia fica ínfimo. Esqueci também que chega-se de uma noitada com o sol já quente, porque aqui o sol nasce primeiro.
E é onde o sol nasce primeiro e é onde você está que eu quero ficar. Porque é aqui que eu nasci, não importa que as pessoas se amontoem para entrar no ônibus e que a faixa de pedestre não seja respeitada. Ninguém é educado socialmente, diriam os de fora, o que digo é que somos felizes e não hipócritas o suficiente para apenas PARECERMOS uma população educada. Do que adianta deixar que o outro passe a faixa de pedestre, se estamos furiosos por que alguém parou o trânsito? Isso tem que ser feito por que queremos, não porque há uma regra social nos impondo. Assim gera-se uma população mal amada, depressiva que apenas faz o que é LEGAL – no sentido de legalidade juridica.
E não me importo se esse texto soar auto-ajuda, conversa de botequim ou qualquer coisa que o valha. Eu só quis contar a vocês que eu aprendi a voltar, a recomeçar e não se espantem se eu anunciar que fui embora pra outro lugar.
Não soou auto ajuda. Achei otimo e faz a gente pensar mto.
ResponderExcluirBjos
Soou poético, não auto-ajuda. Gostei.
ResponderExcluirPs, bonito sorriso...
Auto-ajuda não é o nome... acho que é CORAGEM!! Poucos tem a coragem que você teve, eu já fiz isso... desfiz, e ainda não sei se onde estou é o meu lugar... to me procurando com a certeza que um dia vou me achar!!
ResponderExcluirbeijoss
sorte =D
acompanho esse blog há mais de 1 ano, adoro os seus textos, mas nunca imaginei que você fosse de João Pessoa!
ResponderExcluirÉ onde o sol nasce primeiro que eu sou feliz! Afinal, "somos a porta do sol, deste país tropical..." não troco essa minha cidade por nada!
mas, olha, o pessoal aqui já respeita a faixa de pedestres... e pelo que pude observar, nas andanças por aí, é uma das poucas cidades onde isso acontece; principalmente dentre as capitais do nordeste.
no mais, seja bem-vinda de volta!
mta coragem, talvez isto me falte... ultimamente minhas "escolhas" são feitas para escapar de enrascadas, de encheção de paciencia na minha cabeça e nada baseadas no que eu REALMENTE QUERO.
ResponderExcluirPARABÉNS!
OBS: Ví suas fotos no álbum do twitter, vc é muito bonita!!!! Bjos
MEUS PARABÉNS!!
ResponderExcluirqueria eu, na minha idade, ter a tua coragem!
Felicidades no seu "renascimento".
Ah, sim, auto-ajuda é ruim de doer. Seu texto foi muito, muito bonito.
Já tem um tempo que apareço por aqui pra ler os posts, mesmo sem comentar, porque sempre vejo a Intense comentando sobre os posts e não me aguento de curiosidade. Depois que vc follow me no twitter, aí fiquei mais à vontade, hehehe...
ResponderExcluirAdorei o texto, tbm moro no nordeste e sei exatamente o que é comer caranguejo na praia, delícia, delícia! E sabe o que mais? Eu não trocaria essas pequenas coisas por nada deste mundo! Calor humano não é qualquer lugar que a gente encontra...
Beeeijos
Me identifiquei muuuito. Tem coisa mais gostosa que chupar patinha de caranguejo com os pés enterrados na areia? Hahahaha. E matar a sede do calorão da praia bebendo uma coca-cola? E dar um mergulho bem gostoso? Eu moro em Fortaleza, acho que é mais populosa e maior que João Pessoa, né? E deve ter mais trânsito, mais violência, mas não chega ao nível das cidades maiores. Eu não troco minha cidade por um trânsito mais infernal ainda e mais pessoas mal humoradas fingindo serem educadas (aqui tem mais isso do que em João Pessoa, creio). E a exceção é o Rio De Janeiro, que é uma cidade muito bonita e que eu adoro. E questão de gosto, né, mas pra mim cidade boa tem que ter praia!
ResponderExcluirJá fui a João Pessoa, mas faz tanto tempo. Juro que não lembro. Já Natal eu conheço mais.
;]
Nossa, eu tava pensando sobre questões parecidas há pouco tempo!
ResponderExcluirPercebi que também deixei meu 'verdadeiro eu' morrer nos últimos anos. Eu percebi que me transformei, mas não tinha reparado até que ponto... e percebi que foi ao ponto de ficar quase irreconhecível para mim mesma.
De modo que estou retomando projetos antigos...
Boa sorte, para você!
Embora sua escolha necessite de coragem, acho que você fez o que é CERTO e melhor para você mesma!
Parabéns!!!
Bjos
Aiii... quem dera ter essa coragem... de recomeçar!!! =)
ResponderExcluirTexto ótimo e emocionante como sempre! Mas que coisa, essa semana parece que o mundo inteiro está me dizendo: Oii, não deixe sua vida passar entre os dedos...rsrs
ResponderExcluirVou torcer muito pra tudo dar certo pra você aí na sua terra, você merece muito ser feliz!
OBS: Foto linda!
Muito bonito seu texto, termino de ler com os olhos cheios de lágrimas, não pq vivo uma situação parecida, mas pq o texto realmente me tocou.
ResponderExcluirAmei o texto! Muita sorte pra vc!
ResponderExcluirah eu chorei lendo. que bom que vc tá feliz zing.
ResponderExcluirEu adoro a forma como você escreve, Zin. Não soou auto-ajuda, soou humano.
ResponderExcluirAin, meninas!
ResponderExcluirEu sempre leio, releio, paro de trabalhar pra ler vocês. E nunca comento, mas a foto me contagiou rs.
Hoje no trabalho estavamos falando de sorrir, e como esse seu sorriso na foto mostra que você está feliz e que isso lhe faz bem. Isso é o que importa que a vida é tão rara e sim nós podemos e precisamos aproveitar cada segundo pra ser feliz.!
Parabéns pela coragem, e que Deus ilumine seu caminho e esse sorriso continue.
Um beijo.
ps: não troco são paulo por nada. rs. Pelo menos não ainda...
Achei o texto simplesmente LINDO. Foi sincero, e de coração, o que é ainda melhor :) Parabéns pela coragem de ter largado td pra recomeçar uma vida melhor!
ResponderExcluirEu já morei no Canadá e me senti em casa no meio daquelas montanhas e ursos, já perambulei pela américa latina dançando salsa e falando como nativa cheia de gírias locais, já conheci nosso próprio Brasil e quero conhecer muito mais. Pelo meu espírito inquieto tenho praticamente certeza que meu futuro vai ser em algum outro lugar, que não o meu de origem.
ResponderExcluirMesmo assim, com tantas andanças, amo a minha São Paulo de pessoas reservadas (e não frias!! - quem nunca andou por fora do brasil que não ouse falar dos paulistas como "não-brasileiros") e completo esse comentário com uma frase que pra mim diz tudo: "Lar é aonde o coração está" ;)
Gostei bastante do texto!
ResponderExcluirbeijos :)
e é bem bom voltar pra casa, né?
ResponderExcluirentenda como casa esse resgate da nossa identidade mais genuína, nosso verdadeiro self.
tu não precisa de sorte. já tens. ;)
Que bom que você recomeçou, parabens.
ResponderExcluirSó achei exagerado falar 'geração mal amada, depressiva que apenas faz o que é LEGAL – no sentido de legalidade juridica'.
Eu não paro na faixa porque tem uma lei me obrigando e não acredito que outras pessoas, pelo menos as que convivem comigo, pensem que o pedestre está atrapalhando o trânsito.
Acho só que o povo de Brasília para você pareceu diferente pelo fato de sermos mais fechados...
Boa sorte em Jampa que realmente é uma cidade linda e de povo muito alegre e receptivo. Beijos
Oi, Zin! Sempre há tempo para recomeçar, fazer escolhas, acertar e errar...além disso, é muito bom voltar para casa!
ResponderExcluirDesejo tudo de bom, viu!
um beijão