quarta-feira, 17 de junho de 2009

Pimenta nos olhos dos outros é refresco açucarado

É fácil ser honesto quando não temos acesso a fortunas. Assim como também é simples apontar o outro ou ser a palmatória do mundo quando nunca passamos pela mesma situação. E a facilidade de acabar um relacionamento que não nos faz feliz também parece banal para quem só teve um ou dois relacionamentos na vida.

Os problemas dos outros é sempre tão banal, não é mesmo? Mas o SEU problema é UM PROBLEMA de verdade. Você resolveria o problema dos outros com apenas um telefonema, ao passo que não consegue resolver o SEU mísero problema ligando para Deus.

Aos 16 anos vi minha mãe tentando se divorciar do meu pai. Ele era alcoólatra e tocava o terror na cotidiano de todos que partilhavam a mesma residência. Nessa época, eu sai de casa por não tolerar o desgaste emocional e eu odiava a minha mãe com todas as minhas forças. Eu tinha um diagnóstico: Ela era FRACA, assim em letras garrafais. Não compreendia como alguém podia aguentar tanta coisa e simplesmente não DAR UM BASTA!

Mas a vida é mesmo engraçada, ora você é o mocinho, ora o vilão. Às vezes você recebe aplausos pela canalhice, noutras você atua muito bem e não há ninguém na platéia para vê-lo. E foi assim que estive no papel da vítima e a inércia veio de chofre, tal qual minha mãe há muitos anos atrás. Nessas horas, você ouve o conselho das amigas "Apenas dê um basta" e lembra, ruborizada, que já fez uso de tais palavras, talvez no mesmo tom, talvez na mesma indignação.

Por isso, antes de abrir a boca ou usar o seu dedo indicador para apontar o outro, pergunte-se se você já esteve no mesmo cubículo apertado. É fácil ser honesto quando não há oportunidade de desviar zilhões para sua conta corrente, assim como é fácil dizer "Simplesmente o deixe". Tranquilo também é ser fiel quando ninguém lança uma piscadela para você.

Há inúmeros problemas alheios que são solúveis, mas quando eles estiverem bem diante de você... será que terão a mesma aparência branda?

Umberto Eco (em A Misteriosa Chama da Rainha Loana) genialmente escreveu: "Parece que conheço todos os clichês, mas não sei combiná-los de forma crível. Ou talvez essas histórias sejam terríveis e grandiosas justamente porque todos os clichês se entrelaçam de modo inverossímil e ninguém mais pode desembaraçá-los. Mas quando se vive um clichê é como se fosse a primeira vez que acontece e não se sente pudor.

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